O Exorcismo
Chegamos ao fim das postagens referentes ao curso de
demonologia, e para fechar o curso falaremos sobre o exorcismo. Se você por
pura curiosidade entrou diretamente nessa postagem sem passar pelos artigos
anteriores, peço encarecidamente que leia-os antes de continuar com este. Basta clicar aqui!
A palavra
“exorcismo”, em sentido estrito, é uma oração que tem por finalidade interpelar
o demônio para que seja expulso de uma pessoa possessa. A palavra pode ser
usada de forma ampla, v. g., no rito do Batismo, antes do qual a pessoa se
encontra debaixo de certo poder do demônio, ou quando se reza, privadamente,
renunciando a Satanás ou pedindo a Deus que se seja liberto do demônio. Nesta
aula, porém, o termo “exorcismo” tem um significado específico. Trata-se da
oração para expulsar o demônio de um possesso.
Qual a
disciplina atual da Igreja em relação ao exorcismo? [1] O Código de Direito
Canônico prevê que “ninguém pode legitimamente exorcizar os possessos, a não
ser com licença especial e expressa do Ordinário do lugar”. E acrescenta que
esta licença só pode ser concedida “a um presbítero dotado de piedade, ciência,
prudência e integridade de vida” [2].
Essa
disciplina da Igreja está limitada pelo território, já que tem que ver com a
“licença (...) do Ordinário do lugar”. Isso significa que um exorcista só tem a
permissão de realizar o seu ministério dentro dos limites territoriais da
diocese na qual ele foi autorizado. Assim, diante do caso de um possível
possesso, apenas duas alternativas são possíveis, disciplinarmente falando: ou
simplesmente se reza por essa pessoa – sem se aventurar a “fazer um exorcismo”
– ou ela é levada a uma diocese onde há um exorcista.
O
presbítero que recebeu a licença de praticar o exorcismo, antes de realizar o
seu ministério, deve preparar-se, sobretudo, recebendo os sacramentos da
Penitência e da Eucaristia e cultivando uma vida ascética. E a virtude
essencial para combater o demônio é a humildade. Ao lidar com aquele que caiu
pela soberba, é preciso batalhar humildemente, com a consciência de que só Deus
tem poder sobre Satanás.
Antes de
partir à estrutura do exorcismo propriamente dita, é importante lembrar, mais
uma vez, que não existem provas certas de uma possessão. Por isso, em sua
prudência plurissecular, a Igreja exorta, tanto no Ritual mais recente, de 1999
– De Exorcismis et Supplicationibus Quibusdam –, quanto no Ritual de
1952, que não se creia com facilidade na existência de uma possessão. Em
primeiro lugar, deve-se procurar razões naturais para o que está acontecendo,
sem dar asas à superstição ou à credulidade fácil. O Ritual antigo, por
exemplo, diz que os “sinais de possessão”, de que se falou na última aula –
como falar uma língua desconhecida, revelar coisas ocultas ou distantes ou
apresentar força acima de sua idade ou de sua condição natural –, “signa
esse possunt – podem ser sinais”. Para identificar a possessão, mais que a
quantidade de sinais, é decisiva a modalidade geral desses sintomas, que aponta
para a presença de outra personalidade ativa na pessoa.
Podem ser
usados, em um exorcismo, tanto o Ritual de 1952, em latim, quanto o de 1999,
que conta com uma tradução em português. Os exorcistas, no entanto, encontram
certa dificuldade com o Ritual mais recente, que, embora sendo eficaz, parece
ter sido elaborado por pessoas sem muito conhecimento do que seja a oração de
exorcismo. Tentou-se, por exemplo, transformar a proclamação do Evangelho numa
leitura para todos os fiéis, como na Santa Missa, quando, no Ritual antigo, a
própria leitura do Evangelho era um ato de exorcismo, a ser realizada sobre o
endemoninhado. Alguns também consideram que a eficácia da oração em latim é
maior, por ser uma língua sagrada, por ser especialmente odiada pelo demônio e
pelo fato de o possesso não a compreender – o que serve até para atestar, por
assim dizer, a existência da possessão.
No rito
antigo, o exorcismo se inicia com a ladainha, tem salmos imprecatórios, o
Evangelho, que é lido sobre o possesso, a imposição da estola e do crucifixo
sobre a pessoa e, por fim, o exorcismo propriamente dito, com imprecações diretas
ao demônio.
Também é
possível que se fale de uma “terapia preventiva” da possessão. Trata-se de
certos hábitos que nos protegem do eventual perigo de uma possessão diabólica.
São eles a confissão sacramental, a Sagrada Comunhão, o sinal da cruz, a invocação
do nome de Jesus, o uso de objetos bentos, relíquias e imagens e a devoção a
São Miguel Arcanjo, manifesta especialmente na oração que o Papa Leão XIII
escreveu, a próprio punho, em honra ao príncipe da milícia celeste:
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate. Sede nosso refúgio contra a maldade e as ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos; e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.
Amados, as postagems sobre esse tema ficam por
aqui. Que Jesus seja louvado e o inimigo esmagado. Que toda contaminação
causada por esses artigos na minha e na sua vida sejam dispersas em nome do
Senhor Jesus. A paz de Cristo.
Ps: Não esqueçam de vizitar o curso do padre Paulo
Ricardo. Foi de la onde peguei todo o conteudo desses artigos. Abraços.
Referências
- No livro “O Diabo: ...Vivo e
Atuante no Mundo” (Mir, 2004), o pe. Corrado Balducci conta a história do
exorcismo, desde o século VI, quando da criação do ministério dos
exorcistas, passando pelo Concílio de Trento, que limitou essa oração para
os sacerdotes, até a disciplina atual da Igreja.
- Código de Direito Canônico,
cânon 1172
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