No artigo passado o tema abordado foi a obsessão e suas formas. Neste, falaremos sobre as formas de trata-la, ou seja, veremos as armas contra a obsessão demoníaca, como o próprio titulo sugere. Lembrando, se você ainda não leu os artigos anteriores peço que leia-os antes de iniciar este. (Demonologia!)
Em primeiro lugar, é necessário recordar o seu diagnóstico, ou
seja, de que na esmagadora maioria dos casos a obsessão se dá, por permissão
divina, para pessoas em elevado grau de santidade. Assim sendo,
preliminarmente, o diretor espiritual dessa pessoa deve observar qual o perfil
espiritual dela. Se existirem claros sinais de santidade ou de que ela se
encontra num caminho de santidade, de fato, poderá ser uma obsessão.
Um
segundo ponto é distinguir a obsessão da tentação. Para tanto, é importante recordar que a tentação nem sempre é clara, no mais das vezes ela se confunde
com as paixões pessoais, com o mundo, com a carne, até mesmo com o diabo, tudo
junto. Os fatores não se excluem. Já a obsessão é claramente uma ação
demoníaca. Além disso, deve ser levado em conta o perfil psicológico, até mesmo
psiquiátrico da pessoa. Se existir um histórico de doença mental, a
possibilidade de obsessão pode ser excluída, o que não significa que não haja
ali uma ação demoníaca, mas não necessariamente uma obsessão.
As duas
doenças psiquiátricas que devem ser analisadas no caso de obsessão, possessão e
etc, são a histeria e a psicose.
A histeria
A histeria é uma tendência da pessoa a viver mais a partir do que sente do que daquilo que realmente sabe e conhece, ou seja, ela tende a amparar sua vida no sentimento e não na realidade mesma. Atualmente esse comportamento pode ser observado nos revolucionáios de esquerda, quando, com sua ideologia, persegue os oponentes, implanta coisas contrárias à moral e a Deus. Mesmo assim, mesmo diante de todo mal que eles mesmos promovem, sentem-se as vítimas, perseguidos e oprimidos, ou seja, vivem fora da realidade.
O
histérico, portanto, vive a partir do sentimentos, assim, uma pessoa que se
sinta perseguida pelo demônio realmente crê na perseguição. Não é fingimento.
Ele é o primeiro a ser convencido. A histeria deve ser tratada com a retirada
da pessoa do vitimismo. Este comportamento vitimista nada mais é do que uma
postura idolátrica de si mesma. A pessoa tem dificuldade em aceitar que não é o
centro do mundo. E mais, se não consegue ser o centro do mundo de forma
positiva, se contenta em ser de forma negativa, vitimizando-se. A ajuda do
diretor espiritual deve consistir em tirar a pessoa dessa posição, geralmente
trabalhando o que a levou a tornar-se assim (um acontecimento no passado, por
exemplo).
Psicose
Uma outra doença que deve ser atentamente observada é a psicose. Nela, a pessoa sofre realmente de alucinações, ou seja, vê coisas que não existem. Existem graus diferenciados dessa doença, além disso, os seus sintomas podem se misturar com outros, de diversas naturezas. Logo, o quadro psicótico pode se mostrar bastante parecido com o da obsessão dos sentidos, em que a pessoa sente cheiros, vê coisas, tem sensações bastante nítidas. A pergunta é: como saber se se trata de histeria, psicose ou se é realmente uma obsessão ou possessão?
A
primeira consideração a ser feita é que mesmo havendo um quadro psiquiátrico
não é possível descartar, logo de início, uma ação demoníaca. O que pode existir é uma
situação de tentação, potenciado pelo quadro psiquiátrico da pessoa, o que pode
se parecer muito com a obsessão. Existe uma ação demoníaca, mas ela parece mais
intensa naquela pessoa não por ser uma permissão divina e ela estar num elevado
grau de santidade, mas sim porque ela possui um quadro psiquiátrico no qual se
apresentam as características e as tentações demoníacas que, em outras pessoas
seriam leves, nelas são enormes. Para ilustrar, podemos nos recordar do exemplo
dado na aula anterior do soco numa ferida aberta.
Assim,
não se pode excluir que em quadros psiquiátricos as pessoas apresentem também
situações em que estão, de fato, padecendo sob tentações demoníacas, nesse
caso, é possível assimilar as tentações potenciadas pelo quadro psiquiátrico às
obsessões, pois os efeitos são similares. A diferença é que, em geral, essas
pessoas não estão num elevado grau de santidade.
Diante disso, os diretores
espirituais devem embutir na pessoa uma imensa confiança na misericórdia de
Deus. Caso a pessoa esteja sendo tormentada em obsessões demoníacas deve tentar
retirar disso um bem maior, o consolo deve vir de olhar os sofrimentos como
passos importantes para o crescimento na virtude e no amor.
Por outro
lado, se houver realmente um quadro psiquiátrico, ela deve ser imediatamente
encaminhada para o tratamento médico adequado. Contudo, não se devem excluir os
remédios espirituais, pois corpo e espírito não são situações excludentes. Os
exorcistas costumam dizer que, em muitos casos, a cura da pessoa se dá
justamente ao se aliar o tratamento médico ao exorcismo.
O Padre Gabriele
Amorth, famoso exorcista de Roma, já aposentado, em sua obra "Exorcistas e
Psiquiatras", publicado no Brasil pela Editora Palavra e Prece, apresenta
uma longa entrevista concedida por ele a um grupo de psiquiatras, dentre eles
muito ateus e não-crentes, na qual diz que é necessário considerar que a
Igreja, em sua prudência e em seu conhecimento, não exclui a ciência da
psiquiatria, em que pesem muitas pessoas movidas pela soberba rejeitam logo de
início o uso de medicamentos psiquátricos.
Ele adverte também que, para
algumas pessoas, é muito mais fácil crer que está sendo perseguida pelo demônio
que aceitar que possua um problema que deve ser tratado, pois isto significa
uma espécie de humilhação.
O cérebro
é o órgão da alma. Por assim dizer, a alma humana não se manifesta em sua
nobreza, em sua grandeza, se o cérebro não cooperar. É preciso cuidar dele para
que a vida espiritual também evolua adequadamente. Um justo equilíbrio é o
adequado. Não é possível esquecer que todos precisam cuidar desse
"burrinho", que é corpo, como disse São Francisco de Assis. Desse modo,
qualquer pessoa pode precisar de um ansiolítico, de um medicamento mais forte,
que deve ser receitado por um bom profissional, um que esteja disposto a ouvir,
a fazer um diagnóstico e a prescrever o remédio adequado.
Dito
isso, um terceiro ponto deve ser esclarecido: o uso dos sacramentais. Água
benta, medalhas de São Bento, medalhas de Nossa Senhora, sal e água exorcizados
e bentos, todos eles ajudam no combate à obsessão e à tentação. Mas,
sobretudo, manter os pés firmados no chão por meio da fé e da Palavra de Deus.
O quarto
ponto diz respeito aos sacerdotes, já que eles podem usar alguns exorcismo
menores, de forma privada. Se a pessoa tem um quadro psiquiátrico é possível
usar a forma da oração em latim, se maneira discreta, para não alarmá-la. Uma
oração adequada é o Pequeno Exorcismo publicado pelo Papa Leão XIII. Ora,
alguns podem dizer que essa oração foi proibida, mas o Código de Direito
Canônico diz, em seu cânon 1172, diz que "ninguém pode legitimamente
fazer exorcismo em possessos, a não ser que tenha obtido licença peculiar e
expressa do ordinário local". Como não se está falando de possessão,
mas sim de obsessão ou de tentação severa, não há óbice ao seu uso.
Além
disso, a proibição é interpretada tradicionalmente como sendo para os
exorcismos solenes. O Padre Antonio Royo Marin, em sua obra Teologia de la
perfeccion cristiana, recomenda no caso das obsessões que os diretores
lancem mão de "exorcismos previstos no ritual romano ou outras fórmulas
aprovadas pela Igreja, porém sempre em privado". Em seguida, remete o
leitor que para exorcismos solenes é
necessária a autorização do ordinário local, conforme o Código de Direito
Canônico.
Trata-se,
portanto, de oração de libertação. E, por mais que hajam explicações até mesmos
de alguns dicastérios da Cúria romana dizendo que não se pode, de forma alguma,
usar o exorcismo de Leão XIII, é necessário lembrar que esses dicastérios não
possuem valor legislativo. Assim, quando eles mandam cartas para os bispos do
mundo explicando algum cânon, eles não estão legislando, mas tão somente
explicando, e a explicação só vale se estiver de acordo com a lei canônica.
Para adquirir força de lei seria preciso uma aprovação específica do Papa e,
que nesse caso não existe, ou seja, não há nada que limite o uso do Pequeno
Exorcismo do Papa Leão XIII privadamente. Ademais, o texto dessa oração prevê a
alternativa para padres e por leigos.
Ainda a
respeito do exorcismo, qualquer sacerdote realiza inúmeros ao longo de sua vida
sacerdotal. Por exemplo, durante o batismo, no uso do óleo do catecumeno, no
ritual de iniciação de adultos, nos chamados escrutínios, e assim por diante.
São todos exorcismos menores, não solenes e aprovados pela Igreja. O que não se
pode é fazer exorcismos solenes, públicos, de uma forma que transgrida a lei
canônica já citada. Isso significa que exorcismos para não-possessos, podem ser
feitos por padres, desde que privadamente.
Por fim,
não se deve excluir o fato de que realmente pode estar ocorrendo um caso de
possessão. Caso o sacerdote faça a pequena oração de exorcismo numa pessoa que
apresenta sinais de forte tentação ou obsessão, e ela saia de si, perdendo os
sentidos, convulsionando, ele deve interpretar esses pequenos sinais como sendo
de possessão e, aí é preciso recorrer a um exorcista autorizado. O pequeno
exorcismo há de servir como diagnóstico.
Nossa reflexão de hoje fica por aqui. Não esqueça que no site do Padre Paulo Ricardo esse curso possui vídeos e áudios disponíveis para estudo. Vale a pena conferir!
Comentários
Postar um comentário