[Demonologia] A tentação - Aula 3

Salve amados, a paz de Cristo. Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpa pela ausência. Nas ultimas semanas ocorreu uma serie de eventos dos quais tomaram muito do meu tempo e não permitiram que eu preparasse a 3º aula desse curso.

Pra quem ainda não viu nenhuma aula peço que, por motivos pedagógicos, leia os posts relacionados a  primeira e segunda aula.


Para dar continuidade ao assunto, precisamos entender que, o diabo e seus demônios, podem agir de varias formas e que cada uma deve ser tratada de maneira particular. Entretanto todas começam com a tentação.



Apesar da grande curiosidade que a possessão causa nas pessoas é importante destacar que, dentre as ações diabólicas, a mais perigosa e a que todo cristão deve tomar mais cuidado, é a tentação. A possessão e a obsessão, que falaremos individualmente no decorrer do curso, são ações extraordinária do diabo e dos demônios, mas a tentação é uma ação ordinária, isso é, a tentação é a ação diária dos anjos caídos. Voltando a suma teológica de São Tomás na I seção, questão 114, artigo 2, afirma que o Diabo "sempre tenta para prejudicar, impelindo ao pecado.", ou seja, tentar é o oficio do diabo, é sua função.



Nesse ponto da aula espero que você leitor tenha em mente que, não é a possessão ou a obsessão não devem ser tidas como a única forma de manifestação diabólica, mas que a tentação é uma ação diária e perigosa, não ocorre ocasionalmente, e quanto mais sedo tomarmos consciência disso melhor. A batalha espiritual é travada diariamente, e é importante entender que crer no contrario, ou que o diabo e seus demônios agem apenas ao se apoderar de alguém é uma artimanha que pode gerar distração, um desserviço a si mesmo e leva-lo ao pecado.

"Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às insídias do diabo. A nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, as Potestades, contra os dominadores desse mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados nos ares". (6, 11-12)

O padre Royo Marin, na sua obra, teologia da perfeição cristã, diz que nem toda tentação é oriunda de uma ação diabólica e cita em sua obra a carta de são Thiago:

"Cada um é tentado por suas próprias concupiscências que o atraem e seduzem." Thiago 1, 14.

Ou seja, podemos ser tentados (segundo ensina a santa mãe igreja) por 3 inimigos: A carne, O mundo e o Diabo.

A palavra carne, que é o primeiro inimigo do homem, é usada na bíblia em diversos sentidos, mas no nosso estudo ela possui um sentido especificativamente, que é a desordem interna natural que cada ser humano possui por causa do pecado original e que o inclina ao pecado. Assim sendo, o pecado nem sempre é causado diretamente pelo diabo, mas por nossa própria tendência a ele.

O nosso segundo inimigo é o mundo. Convites, lugares, ocasiões, até mesmo a sociedade são instrumentos de tentação.

O terceiro inimigo é o Diaboe seus demônios.Na Primeira Carta de São Pedro, ele diz que o "vosso adversário, o diabo, anda em derredor como um leão que ruge, procurando a quem devorar" (5, 8). Diante disso é preciso estar sempre alerta, sempre vigilante. Contudo, saber que a tentação é quase contínua não deve ser motivo de desânimo, pois "Deus é fiel e não permitirá que sejais provados acima de vossas forças. Pelo contrário, junto com a provação Ele providenciará o bom êxito, para que possais suportá-la" (ICor 10, 13).

Deus dá a força, a graça, por isso nunca a tentação é maior do que a capacidade de resistência da pessoa e resistir à tentação é uma forma das formas de manifestar o amor por Deus. "Bem-aventurado é o homem que suporta a tentação, porque ele receberá a coroa da vida que Deus prometeu àqueles que o amam" (Tg 1,12). Se Deus permite a tentação é porque quer ver a luta dos seus filhos. A luta aumenta os méritos da pessoa perante Deus e a aproxima ainda mais Dele. É um mistério da graça divina.

O Padre Royo Marin diz que a tentação é dividida em sete passos. Mas adverte que nem todas ocorrem, necessariamente, quando o homem peca. Ele pode cair imediatamente após a tentação diabólica, sem precisar de muito esforço do inimigo. Em outras situações, porém, o pecado pode levar algum tempo a mais para acontecer, ou nem mesmo se concretizar, devido ao esforço sincero de conversão e à busca de santidade da pessoa.

Segundo o Padre Royo Marin, o primeiro passo é a aproximação do diabo: ele não permanece ao lado durante todo o tempo como o Anjo da Guarda. Alguns santos e teólogos levantaram a hipótese de que um demônio acompanha permanentemente o homem a fim de tentá-lo, mas essa possibilidade não encontrou nenhum respaldo bíblico nem se constituiu pertencente ao depósito da fé, portanto, é mais aceitável que seja mera opinião.

O segundo passo é o ataque do demônio. No caso de pessoas afastadas das virtudes é possível que o diabo se aproxime, ataque e ela caia rapidamente no pecado. Contudo, normalmente não é assim que acontece e não foi desse modo que se deu com Eva.

Os demônios são observadores e se utilizam das informações coletadas para consumar a tentação. Eles não têm acesso aos pensamentos nem às almas das pessoas, por isso, servem-se da análise até descobrirem o ponto fraco delas. O Padre Royo Marin ensina que é muito importante estar vigilante e fechar sempre as brechas.

Nessa etapa, tendo em seu poder as informações relativas à pessoa e sabendo qual é o seu calcanhar de Aquiles, o inimigo joga uma insinuação para que a pessoa entre no debate. Não é a tentação ainda, mas apenas uma ideia.

A terceira etapa é justamente a resposta da pessoa à sugestão recebida. Eva respondeu à serpente e o fez apresentando justificativas para a proibição, baseadas em sua racionalidade. Seu desejo não era realmente desobedecer a Deus, mas perdeu tempo raciocinando, tentando explicar por que não deveria comer o fruto. O Diabo, por sua vez, tenta levar a pessoa à conversa.

A proposta do pecado, quarta fase, vem sempre acompanhada de uma mentira. Apresenta uma proposta de felicidade imediata que, geralmente, vem de acordo com o ponto fraco da pessoa. Se a isca for mordida o resultado não será a felicidade, mas sim a morte, vez que o Diabo é o Pai da Mentira. A ruína do homem está em buscar a felicidade onde ela não se encontra.

O Pe. Royo Marin diz que nesta etapa ainda há tempo de retroceder, pois não houve o consentimento. Por outro lado, a alma corre um sério risco de sucumbir à tentação. As forças da alma vão se debilitando e a graça de Deus se torna menos intensa porque a pessoa deu ouvidos ao Tentador.

A quinta etapa é a vacilação, na qual já se comete um pecado venial, pois a pessoa já contempla a hipótese de pecar. Há uma degustação. Nesse ponto, diz o Padre Royo Marin: 

a alma começa a vacilar e a se perturbar profundamente. O coração bate com violência dentro do peito, um estranho nervosismo se apodera de todo o seu ser. A alma não gostaria de ofender a Deus, porém, por outro lado é tão sedutor o panorama que se lhe propõe diante dos seus olhos, ela então começa a realizar uma luta violenta que se pode prolongar por muito tempo.

Se a alma, num supremo esforço, sob a influência de uma graça eficaz conseguir superar a sua própria imprudência, será quase um milagre. Nessa etapa a alma está às porta do pecado.

Em seguida, vem o consentimento do pecado. E sobre essa etapa não há muito o que falar, pois está bastante clara: é a consumação do ato pecaminoso.

Por fim, o estágio do arrependimento. Ele que não é de todo mau, pois revela a consciência da alta vocação do homem para a santidade e produz nele o desejo de reparação, de proferir um ato virtuoso de humilhação e de reconciliação com Deus.

Hoje tratamos do que é a tentação, nas aulas seguintes trataremos de como combate-la.

Como combater a tentação - Aula 04


Veja as próximas aulas aqui:



Referências bibliográficas desta aula

  1. "Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
  2. "Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral", Denzinger-Hünnermann, 2007, Ed. Paulinas e Loyola
  3. Bíblia Sagrada, tradução da CNBB, ed. CNBB, ed. Canção Nova
  4. TOMÁS DE AQUINO (Santo). "Suma teológica". São Paulo: Loyola. [A questão que foi objeto de reflexão no texto está localizada no 2º volume, na I seção, questão 114, artigo 1 e 2]
  5. ROYO MARIN, Antonio. "Teologia de la Perfeccion Cristiana", disponível aqui em formato pdf, acessado em 09/09/2013.

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